Elize Matsunaga matou e esquartejou o marido, o empresário Marcos Matsunaga. Por isso, ela está presa e cumpre pena há 10 anos. Durante esse período ela escreveu um manuscrito que pretende transformar em um livro e publicar assim que sair da cadeia. Em “Piquenique no inferno” ela fala sobre estupro na adolescência e violência doméstica ao se casar.
Trata-se de um livro autobiográfico que escreveu à mão durante o período em que está presa. Nele ela pede perdão à filha que está impedida de ver desde 2012. E ainda conta que agiu sozinha e fez isso para se proteger das agressões que sofria dentro do casamento.
Além disso, ela diz que recebe inúmeras cartas de pessoas que se sensibilizaram com sua história e até mesmo de admiradores com pedidos de casamento.
No livro ela conta que “em um ano, Elize recebeu centenas de cartas de vários lugares do Brasil. Com tentativas de evangelização, pedidos de casamento, amizade e palavras de conforto. Infelizmente não pode responder a todas“.
Na época do crime, em 2019, Elize tinha 30 anos e Marcos 42. A filha deles tinha um ano na época. Ela era uma bacharel em direito casada com o herdeiro da indústria de alimentos Yoki. Tudo aconteceu no apartamento do casal na Zona Oeste de São Paulo e teve forte repercussão na imprensa.
Elize Matsunaga está proibida de ver a filha
A Justiça deu a guarda da filha aos avós paternos que proibiram o contato da menina com a mãe.
“Seria assim o inferno? Ou seria pior, como a visão dantesca?,” escreve Elize sobre estar presa, condenada e sem poder ver a filha.
Elize espera que um dia, quando for adulta, a filha possa ler o livro com a versão da mãe sobre o que aconteceu: sobre sua origem humilde, o fato de ter sido vítima de violência sexual quando era adolescente e também no casamento. Atualmente a menina tem 11 anos: “Minha amada [filha], não sei quando você lerá essa carta ou se um dia isso irá acontecer. Sei o quão complicada é nossa história, mas o que eu escrevo aqui não se apagará tão fácil”, escreve Elize, numa carta escrita no livro.
E continua: “Espero muito ansiosamente que um dia você me perdoe. Não pretendo justificar o injustificável”, escreveu Elize para a filha. “Não há a menor possibilidade de desistir de lutar por ti, minha filha.”
O manuscrito conta sua vida
Elize escreveu toda a história num caderno escolar com capa infantil.
Tudo que está escrito já é conhecido pela justiça e serviu como material de defesa e sensibilização durante o julgamento. E agora, ela resolveu transformar o relato em um livro onde conta várias passagens da própria vida como, por exemplo, que foi estuprada pelo padrasto quando tinha 15 anos: “Quando a penetrava, Elize sentia uma dor cortante com a sensação quente de seu sangue e a reação inútil de seu corpo. Cedeu sua virgindade à violência”.
Em 2016, Elize foi de fato condenada a 19 anos, 11meses e 1 dia de prisão. Porém, em 2017, o STJ reduziu a pena para 16 anos e três meses. Atualmente ela cumpre pena no semiaberto na Penitenciária feminina de Tremembé (SP). Na prisão ela trabalha na área de costura, sai nos feriados e precisa voltar depois. A previsão é que ela seja solta em 20 de janeiro de 2028, quando termina a pena.
“E como o fim é sempre um novo começo, me atrevo a dizer que não termino minha vida na prisão”, escreve Elize no livro.
Além disso, ela conta por que escreveu seu manuscrito com uma caneta de cor vermelha: “Só uma vida escrita em vermelho, sangue e vinho”.
De acordo com o casal Luciano e Juliana Santoro, advogados defesa de Elize Matsunaga, a expectativa é que no futuro o caderno possa virar uma obra oficial escrita pela própria autora e vendida nas livrarias: “Elize tem algumas opções de publicação e pretende assinar com a editora após ser colocada em liberdade”, diz ao g1 o advogado Luciano Santoro.